sábado, 13 de março de 2010

Momentos de brasilidade - Batalha do Avaí

O Dezesseis fez alto numa eminência à margem direita do arroio e, pela primera vez, foi-me dado presenciar, como espectador, em toda a sua esplêndida grandeza, o espetáculo de uma batalha campal.
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Nada há de mais horrivelmente trágico. O soldado sente emoções indescritíveis. Despertam-se-lhes os instintos beduínos e aplaude arrebatado de entusiasmo os golpes e os feitos gloriosos, sem se lembrar das lágrimas e do luto. O brilho da glória esconde o crepe da desgraça.
A coxilha onde estávamos, tinha ao sopé o Avaí, correndo para a nossa direita com o caudal aumentado pela chuva que lhe dera os tons vermelhos da argila arrastada, que podiam ser também do sangue derramado.
Nas alturas fronteiras, as forças paraguaias batiam-se com tenacidade e firmeza.
O Marquês [Caxias] comandava em pessoa a bela batalha.
A nossa artilharia, troando nas alturas, abria avenidas nas colunas inimigas.
Dois batalhões nossos, o 9º do Lima e Silva, o Chicão, e o 15º do Méier, foram acutilados à nossa vista pela cavalaria do Ditador,
O Câmara vingou-os, varrendo-á do campo de batalha.
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O meu cavalo dava sinais de impaciência, parecia ter inveja dos seus camaradas da divisão Correa da Câmara.
Perto de nós, havia cadáveres brasileiros e paraguaios, e também feridos.
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As bandeiras tricolores flutuavam por aquelas colinas além, envolvidas em nuvens esbranquiçadas de fumaça. De repente, os batalhões inimigos manobraram rápidos e formaram quadrados. Por que essa manobra? Não víamos cavalaria perto. Só a artilharia jogava os seus 'schrapnels' certeiros e a infantaria tiroteava à distância. Surgiram em seguida, como por encanto, nas fraldas das colinas, pela direita e pela esquerda, além do arroio, onde pelejavam no alto os quadrados escalonados, os nossos belos regimentos rio-grandenses, de lanças perfiladas e as bandeirolas vermelhas e brancas tremulando, como que indicando o caminho da vitória. Ouvimos o som 'vermelho' dos claríns e todas aquelas lâminas rutilantes se abaixaram e as bandeirolas se sumiram. Era a carga. As imensas colunas aproximavam-se, cerradas e rápidas.
Dir-se-ia que uma carregava sobre a outra. Encontraram-se, enovelaram-se, confundiram-se e quando cessou a épica refrega e os esquadrões se reformaram, não havia um quadrado de pé. Todos tinham sido esmagados pela avalanche fatídica.
Câmara, Andrade Neves e Mena Barreto foram os comandantes das cargas memoráveis daquele dia.
Dos oito mil paraguaios que ali foram para nos deter a marcha, escaparam com o ilustre Caballero, duzentos homens. Outros afirmam que só quarenta. À tarde, entramos em Vileta. Ví oficiais brasileiros levando na garupa paraguaios feridos.

(Extraído de Reminiscências da Campanha do Paraguai, de Dionísio Cerqueira, um bahiano, estudante de Medicina que se apresentou como soldado voluntário no Exército e lutou do início ao fim desse conflito.)

Descendo de gente que esteve lá. Homens valentes, decentes, honestos e patriotas.

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