quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Heróis brasileiros para serem lembrados: José Plácido de Castro

Militar regular, bandeou-se para as forças revolucionárias de 1893, tendo tomado parte em diversos combates na região da campanha gaúcha, especialmente no cerco de Bagé, no Caverá e na várzea do Vacacaí. A vida o levou para a região amazônica onde solicitou terras devolutas por ele descobertas no atual Estado do Acre. Anos mais tarde, com o apoio da população da região, proclamou o Estado Independente do Acre, contra a Bolívia. Excelente militar, venceu diversas refregas enfrentando os bolivianos, sendo que numa delas aprisionou o Alto Comando deles, inclusive o Presidente da República. Com a intervenção de Rio Branco, o Brasil comprou o território contestado, o que foi sancionado no Tratado de Petrópolis, em 1903. Plácido de Castro ficou como Governador do Acre, mas sofreu grande oposição. O imortal gaúcho gabrielense, Conquistador do Acre, foi assassinado em 9 de agosto de 1809: "mataram-no de emboscada, dormida a pontaria numa forquilha de seringueira".
Em 1929, foi apresentado ao Senado um projeto de lei concedendo a Plácido de Castro, por relevantes serviços prestados à Pátria, o posto de General Honorário do Exército e, paradoxalmente, o de Coronel a dois envolvidos em sua morte.
A mãe de Plácido de Castro, então, com 92 anos de idade, ditou uma carta ao autor do projeto, e a mandou entregar por um outro filho dela. Diz, textualmente:

"Exmo. Sr. Marechal J. Pires Ferreira, D.D. Senador da República - Senado Federal
Chegando ao meu conhecimento que transita pelo Senado um projeto de lei de autoria de V. Exc., dando honras de General ao meu pranteado filho, e de Coronel a dois dos principais cúmplices no seu assassinato - Gentil Tristão Norberto e Antônio Antunes Alencar -, venho pedir a V. Exa. o grande favor de retirar o nome de meu filho do mesmo projeto. Em vida, ele nada pediu à sua Pátria e nada recebeu além de perseguições, da injúria, da calúnia e da morte por mão das principais autoridades federais. É justo que depois de morto, quando de nada precisa, também nada receba. Os governos já tripudiaram muito sobre o seu nome e a sua memória... Que ele repouse na paz da conspiração do silêncio em que envolveram o seu nome, desde o momento em que não necessitaram mais de seus serviços - desde a assinatura do "Tratado de Petrópolis". O bárbaro crime que vitimou meu filho prescreveu sem que o mais ligeiro inquérito fosse aberto a respeito; sem que ao menos os nomes dos miseráveis assassinos fossem apontados pela Justiça à execração pública!
É preciso que a Pátria seja coerente: com honrarias póstumas ela não ressuscita a vítima nem lava as máculas do passado.
Continue ela a proteger, amparar e distinguir os assassinos, procurando apagar os vestígios da covarde tragédia de 9 de agosto de 1908 e a transformar criminosos em heróis. Isso é justo; mas que aos 92 anos de idade eu veja o nome de meu filho servir de escada para a ascensão dos seus matadores, - isso é demais...
A posteridade julgará meu filho, e é bastante.
Creio que V. Exa. ignora que Gentil Norberto e Antunes de Alencar sejam dois dos implicados no assassinato de Plácido, mas o meu fim é apenas arredar o nome de meu filho de tão más companhias, e grata ficarei se V. Exa. me atender.
Convém dizer que não estou caducando: ainda sou mais sadia de espírito do que de corpo, e só não vou pessoalmente falar-lhe porque há 8 meses guardo o leito com uma perna fraturada.
Rio, 24 de julho de 1929.
De V. Exa.
Zeferina de Oliveira Castro
"

[o destaque é do original]

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