É necessária uma pequena introdução sobre as dificuldades encontradas em relação a um correto e seguro entendimento macroeconômico do Brasil, tendo em vista a disparidade das informações encontradas, muito em razão da perda de independência de pesquisa e informação do instituto oficial de coleta e interpretação de dados – o IBGE -, mormente aqueles que dizem respeito aos elementos da Economia Nacional. Além disso, artifícios variados são utilizados para dar impressão positiva ao público em geral e mesmo para a as publicações especializadas, em que pese que essas últimas identifiquem as tentativas de encobrimento de problemas, de mascaramento de números, ou de embaçamento e desfocagem de algumas imagens da realidade.
Exemplo claro são os artifícios utilizados na demonstração do ‘superavit primário’, isto é, o resultado positivo das contas públicas, sem a consideração dos juros pagos. No caso do ano de 2009 houve uma maquiagem das contas para que não demonstrassem um ‘deficit’, dado os exorbitantes gastos do Governo. Elevados montantes de programas governamentais não foram levados como despesas ou transferidos de exercício fiscal e, de outro lado, houve intensa troca de empréstimos e compras de títulos entre companhias estatais e o BNDES, também não consideradas no cômputo geral. Tudo agravado pela demora em apresentar certos gastos no tempo correto e no engodo de algumas informações meias-verdades.
Os índices de emprego não vêm acompanhados do número dos empregos perdidos; assim, os de carteiras assinadas. Na realidade, os empregos industriais apresentaram queda; o setor que cresceu foi o de serviços e, naturalmente, o do funcionalismo público, recorde histórico, incluindo o de serviço militar obrigatório.
Não há informação sobre a depreciação da indústria nacional, dado importante para a correta apreciação da saúde econômica da Nação através do PIL (Produto Interno Líquido), pois se pode estar exportando a nossa capacidade vital de produzir, tanto da indústria quanto do solo.
Isto deve bastar para comprovar as dificuldades de apreciação do panorama econômico nacional. A insegurança em relação a dados básicos é enorme. O Brasil saiu da crise financeira global? Alguns juram que sim - sempre aqueles que auferem vantagens que se pense dessa maneira. Tal informação é baseada em que? Em desejos e apostas do Ministro Mantega? O mesmo que disse que o País cresceria em 2009? Se – ainda é dúvida - o Brasil conseguiu sair da crise, essa escapada é sustentável? Da maneira como foi feita, quanto custou à Nação? Os beneficiários devolveram os empréstimos como aconteceu, em grande parte, nos Estados Unidos? De onde surgiu o dinheiro, se o governo não mexeu em suas reservas? Onde havia ‘gorduras’ se a arrecadação caiu vertiginosamente, enquanto os salários dos funcionários públicos subiram? A tal ponto foi o aperto de caixa do Governo que ele autorizou o Tesouro Nacional a fazer uso dos depósitos judiciais dos processos envolvendo empresas versus União, o que é preocupante, além de segurar a devolução do Imposto sobre a Renda. Aumentou-se, então, a emissão de moeda. E, se a produção não responder, gerando mais empregos e agregando mais consumo, essa emissão não será inflacionária? Aquela maneira simples de farejar inflação: menos produto, mais dinheiro. E a inflação, já quase esquecida da população, está começando a arregaçar os dentes, justo em um ano de eleição, o que dificulta medidas conservadoras e restritivas.
E o gigantesco déficit público previsto para este ano de 2010? E se o Governo brasileiro, num exótico surto de construção de imagem imperialista continuar a financiar outros governos africanos e latino-americanos, a fundo perdido? Ou meter-se a perdoar dívidas públicas de outros países, ou a renegociar desvantajosamente contratos e acordos internacionais sacramentados, como já fez? Ou de fazer compras exorbitantes a preços acima do mercado? É claro que, para um país que apresenta modesto crescimento econômico, e com problemas internos de toda ordem no atendimento de sua população, não haverá disponibilidades financeiras a serem utilizadas, a não ser aumentando o meio circulante, gerando pressão inflacionária.
Enfim, para mantermos o equilíbrio das contas públicas, não dependeremos de nossos esforços, mas dos investimentos estrangeiros diretos – aplicações na produção de bens e serviços. Na realidade, não basta que eles continuem, mas devem crescer em volume. Na realidade, estão diminuindo, assim como o crescimento das reservas cambiais.
Desde que os dados que servem de parâmetros nos exercícios estatísticos públicos – comércio, transporte, educação, tecnologia, indústrias, mineração, agricultura - ficaram sob a vigilante (e comprometida) supervisão e liberação da Casa Civil do Governo, os números e porcentuais apresentados não inspiram mais confiança, atingindo diretamente uma ciência como a Economia, que depende da divulgação de índices e números corretos para a devida interpretação dos fatos econômicos.
Não obstante, não há de onde coletar os dados requeridos, restando, portanto, usá-los, mas sempre com grande cuidado crítico.
Dessarte, é difícil prever o futuro ao longo prazo , devido principalmente à instabilidade do sistema político brasileiro e, atualmente, sul-americano, mas vejamos:
A relativamente insegura economia mundial é um fator preocupante, embora pareça que os traumas maiores já tenham passsdo, o que muitos duvidam. Mesmo assim, espera-se um crescimento de baixo a moderado nas economias dos países mais desenvolvidos, e algo um pouco mais otimista nos emergentes, onde poderá estar o Brasil.
A partir de 2010 os Estados Unidos deverão exercer uma poderosa pressão para exportarem seus produtos, competindo mais com os manufaturados brasileiros que hoje encontram nichos antes desprezados pelos americanos do norte. A concorrência chinesa pelos mesmos mercados – hors concours no confronto, pelos seus baixos preços devidos a baixos salários pagos dificultará ainda mais a venda dos produtos nacionais.
O Brasil deve continuar a exportar bastante minério, principalmente bauxita e ferro, e deverá continuar suas enormes vendas de produtos agrícolas, principalmente soja e carnes diversas, ambos, frutos de seus enormes recursos naturais, dependendo, é claro, de que não haja mudanças radicais e extremadas na legislação do uso e propriedade do solo, de fundo não econômico.
O problema cambial e seu gerenciamento são importantíssimos, pois o dólar flutuante – lâmina de dois gumes - pode afetar a economia brasileira em seus mercados de exportação, a depender, mais uma vez, da interferência ou não de parâmetros políticos ideológicos, isto é, a independência das decisões do Banco Central. Se o Real valorizar em demasia, as mercadorias perdem competitividade, embora, de outro lado, barateiem alguns insumos básicos para a agricultura, como os fertilizantes e os agrotóxicos. Valorizando demais, faz inchar as importações, ajudando a corroer a produção nacional.
Ainda tem a imponderabilidade dos juros. Para garantir o fluxo de capitais que financiam o Governo através da compra de papéis públicos, ou que alimentam as Bolsas de Valores, nesse último caso, especialmente, o capital financeiro especulativo, os juros devem ser convidativos. Este tipo de capital é danoso à economia, no médio prazo, em que pese salvar a casa e a cara em momento emergencial, postergando os problemas para mais adiante. Em outras palavras: armando uma bomba-relógio para explodir em outro govêrno.
Os juros atualmente pagos são tão díspares internacionalmente que permitem que empréstimos sejam tomados em dólares na rede bancária norte-americana – com juros menores do que um por cento ao ano, e aplicados no Brasil à taxas em torno de 8-9 %. Como tais volumes de dinheiro têm de ser transformados em Reais, existe um novo lucro gerado pela falsa valorização do Real em frente à moeda norte-americana, a qual ainda é – e o será por muito tempo – moeda de manutenção de valor. Esta operação saqueia o País da mesma maneira que nossos bancos saqueiam a população através dos empréstimos pessoais: juros exorbitantes e criminosos em uma conjuntura de inflação contida em torno de 5% ao ano. Tal saque está demonstrado nos exorbitantes e estrondosos lucros bancários num País em que o PIB foi negativo, assim como foi o crescimento da indústria. Não é à toa que a população se encontre super-endividada, impedindo a poupança nacional
Essa política de juros elevados – permitindo a manutenção fantasiosa de sucesso econômico, o ‘empurrar com a barriga’ - freia duplamente a economia, pois encarece o crédito de produção e de consumo, além de elevar a dívida publica e o serviço da mesma. Na realidade, uma sinuca de bico de difícil previsão e de uma enorme fragilidade. Um movimento em falso e quebram-se os cristais. Uma simples e pequena elevação da taxa de juros dos EUA criará macro-problemas para as contas brasileiras e para sua economia, em função da fuga dos dólares aplicados especulativamente nas bolsas brasileiras.
Pior, nossa atual economia, apesar da mídia favorável – e pouco crítica - não consegue nem mesmo emular o tão mal falado “milagre econômico brasileiro” da década de 70, quando o governo conseguiu, também com endividamento externo, criar a infra-estrutura (especialmente transportes e energia) que ainda dá sustento ao Brasil atual, mesmo que o País tenha sido descoberto somente há cerca de oito anos atrás, como quer o primeiro mandatário da Nação.
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